#2 — Sobre objetos e materiais editoriais e a escolha

Ana Flávia
3 min readDec 3, 2020

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Os objetos editoriais são elementos que passam por uma sequência produtiva de várias fases antes de estar realmente pronto, como capa, título, contracapa, entre outros, e fazem parte de um material editorial, que podem ser livros, revistas, etc.

Dessa forma, o objeto editorial para o qual decidi propor uma reedição faz parte do material editorial chamado O Manual da Garota Cacheada, de Lorraine Massey e Michele Bender (ou Curly Girl The Handbook em sua versão original). O livro aborda reflexões e novas práticas ao cuidar de um cabelo com curvatura (ondulado, cacheado ou crespo).

Capa do livro na versão original em Inglês
Capa do livro na versão original em Inglês
Capa do livro na versão em Português

O título

Mesmo que tema do livro englobe todo o tipo de cabelo com curvatura, a tradução do título contempla apenas o cabelo cacheado que, coincidentemente ou não, é sempre o cabelo considerado bonito, com cachos “perfeitos”, enquanto o cabelo ondulado é considerado um “liso estranho e volumoso” e o cabelo crespo um cabelo “ruim”.

Ainda neste contexto, eis que faço surgir a pergunta: será que este título também não faz com que os homens que possuem cabelo cacheado sintam-se excluídos? Talvez, pelo título, faça-se pensar que é um livro voltado apenas para o público feminino, o que não é verdade.

A capa

Já nas imagens que ilustram a capa, na versão original é possível ver que sim, os três tipos de cabelos que podem ser beneficiados com as técnicas propostas ao longo do livro são representados, porém, a maior foto, portanto a que mais se destaca, é a de uma mulher branca com cabelos cacheados considerados perfeitos, sem nenhum fio “fora do lugar”, enquanto o cabelo crespo e ondulado são representados em fotos menores que podem até ser passadas despercebidas em uma olhada rápida do possível leitor.

Na capa da versão em Português do livro podemos ver que as fotos são todas do mesmo tamanho, porém o cabelo crespo foi totalmente excluído nessa versão, ficando apenas o cabelo cacheado e ondulado, mesmo que na capa da versão em Português possamos encontrar mais modelos que na capa da versão original em Inglês.

A proposta de reedição

Visto isso, minha proposta, ainda que não totalmente elaborada, gira em torno da falta de representatividade de cabelos reais num livro que é feito para pessoas reais. Um cabelo real não fica bonito todos dias e o que é retratado na capa do livro é algo muito fora da realidade, algo que provavelmente o leitor ou a leitora do livro não irá conseguir alcançar, podendo ficar frustrado após seguir as dicas que o livro contém e não chegar no resultado desejado.

Na postagem anterior, abordei o conceito e função dos paratextos e, sendo a capa de um livro o seu principal paratexto, é algo que deve ser elaborado muito cuidadosamente para atrair a atenção do público e para que este sinta-se verdadeiramente representado. Sendo assim, a reedição que irei propor nas próximas postagens para a capa do Manual da Garota Cacheada irão de acordo com a representatividade que esta pode apresentar, fazendo com que a capa possa cumprir seu principal papel como paratexto: atrair e fazer com que o leitor sinta-se representado.

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